quarta-feira, 5 de outubro de 2011

LANTERNA NA MÃO E DESIGN DO FUTURO



Neste início de outubro/2011, o momento continua sendo de grande instabilidade na economia e no mercado financeiro internacional. O pano de fundo é o vultoso déficit público dos EUA e dos países europeus originado preponderantemente, em 2007 e 2008, no socorro aos grandes e pequenos bancos fortemente impactados na fase inicial da crise. 

Homens do mercado financeiro e sua fiel escudeira, a grande imprensa, buscam ocultar esse diagnóstico e recitam o velho jargão de que o déficit público desses países resulta de administrações públicas perdulárias e da antiquada sociedade do bem estar, com suas aposentadorias, assistência à saúde e à educação, proteção legal ao emprego e apoio financeiro temporário aos desempregados. O receituário ?!?! Cortes nesses gastos, reformas trabalhista, previdenciária e fiscal para desonerar investimentos empresariais.

O mote do noticiário é a desmoralização dos norte americanos que nas ruas manifestam-se contra os recursos biliadários utilizados no salvamento de bancos, que sequer cortaram bônus e gratificações às próprias diretorias. São anarquistas ! Gregos, franceses, portugueses que foram às ruas contra os cortes de gastos do governo em educação e saúde ? Marajás !

O banco franco-belga Dexia é a face recente do perfil da crise européia e exemplo das condições precárias dos grandes bancos. Excessivamente exposto aos títulos da dívida grega, deve receber aporte biliardário dos governos da Bélgica e da França para manter-se no mercado. Mas, ao seu lado, o Société Generale e o BNP Paribas, todos sob o efeito da crise da dívida soberana européia, resistem à pressão reguladora das autoridades monetárias no registro adequado de “títulos podres”. Os três bancos teriam de assumir prejuízo de cerca de €3 bilhões. Especialistas projetam necessidade de aporte de €600 milhões pelo BNP Paribas e de €5 bilhões pelo Société Generale como capitalização necessária para aquela adequação contábil estabelecida no Acordo Basiléia III de regulamentação bancária, de setembro/2010.

A crise impacta bolsas de valores por todo o ocidente e oriente, bolsas de mercadorias e os mercados cambiais. É momento de grandes ganhos por especuladores que jogam com as expectativas que eles mesmos manipulam com o noticiário, farto em evidências da insegurança dos governos sobre os melhores caminhos, dos políticos e do rumo de suas candidaturas, das empresas e de seu  stop and go de projetos de investimentos, e do cidadão, frequentemente perdido nesse emaranhado, buscando manter suas economias.

Inequivocamente, é um momento de grandes oportunidades aos que puderem antever a configuração e os rumos da sociedade e dos mercados. As fusões e incorporações de grandes empresas bem demonstram que o grande capital está atento e encontra-se em curso uma redistribuição dos mercados entre os participantes preexistentes e os novos, surgidos das fusões.

O povo nas ruas nos países avançados, novos países na liderança mundial e decadência de grandes potencias européias, nova consciência e formação social no mundo árabe, novos produtos, novas tecnologias, novas fontes de energia, a mudança está em curso acelerado.  

E o design do futuro, construído no presente a cada momento, ainda não está plenamente claro. Contudo, pode-se observar as seguintes tendências: 

a) diluição de parcela do poder hegemônico norteamericano entre alguns outros países;

b) direcionamento da política mundial para algo um tanto menos distante de uma relativa democracia entre nações, com papel crescente da ONU na formalização das definições de interesse da comunidade de nações;

c) reestruturação da ONU e de seu Conselho de Segurança;

d) admissão da Nação Palestina na ONU;

e) ascenção do poderio militar chinês e sua projeção para o Oceano Índico e costa oriental da África, não sem conflitos diplomáticos com a Índia;

f) projeção de poder ocidental pela OTAN sobre o Atlântico Sul para conter o avanço chinês;

g) estagnação da economia européia pelos proximos quatro ou cinco anos, quando junto com a economia norteamericana poderá ensaiar alguma recuperação, ao final do mandato presidencial do próximo presidente dos EUA; 

h) surgimento e implantação paulatina de uma nova moeda para as trocas internacionais, calcada em uma cesta de moedas;

i) alteração ainda lenta da matriz energética mundial por meio da ampliação das fontes de energia, com incorporação da energia eólica e solar, em vista do barateamento da tecnologia para o seu emprego, notadamente entre os países maiores consumidores, mas com predominância da energia nuclear, cujos projetos não foram cancelados, mesmo com o acidente nuclear do Japão;

j) estagnação do mercado de carbono do MDL da ONU, pelos próximos quatro ou cinco anos, em vista da crise econômica européia e a redução de emissões de carbono que esta acarretou;

k) desenvolvimento de tecnologia para retenção de carbono proveniente de emissões pelo uso de carvão, ainda mantido com importância predominante no Reino Unido, China e outros países asiáticos;

l) retomada do desenvolvimento econômico dos países europeus e dos EUA, calcado sobre as bases produtivas de uma economia limpa, a partir de 2015-16, com o desenvolvimento e intensificação da produção limpa de produtos sustentáveis, estabelecendo nova parametrização para o desenvolvimento capitalista mundial.
 

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