domingo, 28 de agosto de 2011

DICOTOMIA ENTRE INTERESSES RENTISTAS E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


Donos ou empregados de luxo dos bancos, os "homens do mercado" financeiro lançam na imprensa o mote: "a economia está aquecida". Juros Selic são o tema, seja para vender jornais, seja para ajudar na renovação dos "papagaios" que empresas jornalísticas e de televisão têm nos bancos comerciais. O vaticínio é "em 2011 a inflação está raspando o teto da meta, mas em 2012 superará."


Esse discurso é, na realidade, a ponta de um imenso iceberg, ocultando as entranhas da questão econômica de poder político, em que se destacam dois elementos: o câmbio e o elevado nível de emprego.


O EMPREGO - O baixo nível de desemprego na economia brasileira e a decorrente elevação no nível dos salários podem estar determinando a redução dos níveis de ganhos empresariais pela produtividade do trabalho. Isso pode estar impulsionando a classe empresarial a ter que se decidir por novos investimentos em tecnologia em um quadro de graves incertezas no horizonte internacional, na busca de manter níveis satisfatórios de produtividade e de elevada lucratividade.


Caso não adotem investimentos no avanço tecnológico das empresas, a recuperação de níveis atraentes de produtividade e de lucratividade somente poderá se dar pela redução do nível de emprego trazida pela elevação dos juros Selic.


Se de um lado alguns segmentos empresariais estão realizando aprimoramentos tecnológicos no processo produtivo, outros não estão. Aos que estão, o aumento da taxa Selic poderá ser bastante prejudicial, caso tais empresas tenham acesso dificultado às linhas do BNDES, conhecido pelos juros reduzidos tanto para empréstimos para capital de giro, quanto para capital de investimento.


Aos empresários que, por outro lado, não estão investindo em aprimoramentos tecnológicos dos processos de trabalho em suas empresas, a elevação da SELIC poderá ser menos prejudicial, pois os ganhos de produtividade e maior lucratividade poderiam decorrer da redução dos níveis salariais e no turn over da mão de obra trazido pela elevação da SELIC.

Diga-se de passagem, que a concentração empresarial, ou seja, fusões, incorporações e aquisição de empresas, podem servir ao propósito de aprimoramento tecnológico de processos de trabalho empresarial, elevar a produtividade de trabalho e proporcionar maior rentabilidade aos capitais.

Há uma questão chave, contudo. Já no governo Lula e também agora, no governo Dilma, as expectativas do comportamento da economia NÃO MAIS SÃO determinadas exclusivamente pelo mercado financeiro. O governo federal trouxe para si determiná-las, buscando deixar assim de ser joguete nas mãos do mercado financeiro, com suas avaliações dos juros futuros, da inflação futura, dos preços futuros de commodities, matérias primas, alimentos e de energia etc.

Os níveis de investimento da economia brasileira já são também orientados pela ação governamental, seja na política anticíclica, seja nos projetos infraestruturais de investimento, seja nos incentivos setoriais que resultaram no ressurgimento da indústria naval e náutica, por exemplo, e na melhoria do nível de emprego.

Basta lembrar o trabalho realizado pelo BNDES, nos últimos seis anos, de identificação de 800 municípios chaves no País, com poder de irradiação de desenvolvimento, a descoberta de suas potencialidades e vocação econômica, para ali serem destinar, empréstimos a segmentos econômicos específicos, buscando a promoção de emprego, renda e a internalização de tecnologia. Essa a razão do crescimento geograficamente uniforme do País, nos últimos anos.

A divulgação na mídia das opiniões de lobistas e economistas vinculados aos grandes bancos brasileiros e internacionais tem tido o papel predominante de demonstrar sua insatisfação com a não adoção, pelo governo, de uma política monetária pura, ou seja, aquela em que a política monetária restringe-se a unicamente administrar os níveis de juros.

Interessados em manter elevados os ganhos com juros, os bancos executam forte comunicação social, buscando formar a opinião pública em favor de uma pretensa necessidade de elevação dos juros SELIC, de uma pretensa inexistência de políticas alternativas diante da retomada da inflação. Diante disso, se o governo não subir a SELIC, daria mostras de fraqueza e incompetência. TV e grandes jornais são seus aliados dos bancos nessa empreitada.

O CÂMBIO –  Aqui outro elemento da estratégia: se o governo for taxado pela 'opinião pública' como é fraco e incompetente ele não teria forças para promover qualquer alteração no câmbio, algo necessário para a sobrevivência do País, ainda que difícil, mesmo para governos fortes. São imensas as perdas de competitividade do País por conta do câmbio sobrevalorizado. E, na semana passada, o FMI acenou com a necessidade de algum controle na área. A ONU já havia se manifestado nessa mesma direção, há pouco mais de um ano.

O Banco Central teve que entrar três vezes nas operações cambiais, em 08.07.2011,  para enfrentar aposta recorde dos bancos na queda do dólar, totalizando  US$38,6 bilhões.  Além disso, Na última semana deste agosto de 2011, as empresas multinacionais já totalizam US$20 bilhões em remessas ao exterior de lucros e dividendos, como meio de viabilização econômica de suas matrizes. Maiores devem se tornar as pressões para que controles cambiais mais severos não sejam impostos pelo governo.

Diante desse quadro, serve aos interesses dos grandes bancos que o governo federal não aglutine forças políticas que lhe permitam adotar medidas restritivas ao livre jogo cambial que trazem receitas espetaculares aos bancos.

No estabelecimento de IOF sobre o saldo líquido das posições cambiais dos bancos, a imprensa atuou agressivamente na desqualificação moral do ministro Guido Mantega e na divulgação do quanto seriam inóquos tais mecanismos de controle da jogatina cambial.

Contudo, em 24.08.2011, o saldo das apostas contra o dólar, em favor da valorização do Real, decresceu para US$2 bilhões, quando meses atrás havia totalizado US$16 bilhões. Isso evidencia que as medidas adotadas pelo ministro têm sido eficientes e têm conseguido conter a valorização do Real.

Nunca é demais lembrar que a elevação dos juros SELIC tende a proporcionar, por um lado, a redução dos níveis de  investimento e de emprego na economia como um todo, a queda dos salários pagos, a elevação das margens de produtividade e de lucro empresarial. Por outro lado, a elevação dos juros Selic aumenta os atrativos para a internalização de capitais externos especulativos para ganhos cambiais e com juros, sob a intermediação bem remunerada dos bancos.

Nesses propósitos, a grande imprensa tem servido à disseminação da falsa idéia de incompetência governamental e de seus instrumentos de controle monetário-fiscal, viabilizando: (1) a retomada do pleno controle das expectativas da economia pelo setor privado; e (2) a liberdade de movimentos internacionais de capital. Ambas as situações comprovadamente vulnerabilizam a economia brasileira trazendo efeitos negativos sobre o nível de emprego dos capital e trabalho e limitam o potencial de desenvolvimento econômico, em favor unicamente da classe rentista nacional e internacional. 

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