quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ALGO SOBRE FINANÇAS PESSOAIS E EMPRESARIAIS NA CRISE

A economia de livre mercado está sujeita a episódios recorrentes de especulação e crises sistêmicas, envolvendo ações de empresas, imóveis, obras de arte, títulos bancários etc.

O laissez-faire do fundamentalismo de mercado implementado nos últimos vinte anos falhou dramaticamente no teste ao implementar o modelo de desregulamentação do mercado e a gestão pública sob o Estado mínimo. Experimentado, esse modelo provou sua incompetência e fragilidade teórica. (UNCTAD,iii,,2009)

Galbraith (1990:01), o grande economista norte americano, revelou que são remédios para essas crises especulativas o abandono do excesso de otimismo financeiro e a adoção de uma atitude cética pelo investidor ao encarar uma provável insensatez das ofertas à sua disposição nos mercado financeiro e de investimentos. 

Uma regra básica foi ensinada por Galbraith: ao serem avaliadas oportunidades de investimentos, deve-se ter presente que aquelas pessoas que estão intimamente ligadas à gestão de grandes somas dinheiro estão inclinadas a uma atitude autocongratulatória e extravagante fortemente propensa ao erro.

Como se essa atitude não bastasse ao ser humano gestor de recursos financeiros para destruí-los, próprios ou de terceiros, ao ensinamento de Von Shiller, de que toda pessoa, enquanto indivíduo, é sensata e razoável, mas como membro de uma multidão, torna-se um idiota,  Galbraith acrescentou que:

"... quando uma onda de excitação toma conta do mercado [financeiro] ou envolve uma oportunidade de investimento, ou quando surge uma perspectiva única de investimento baseada na presciência especial de alguém, todo o indivíduo sensato deve se precaver: o momento exige cautela (pois) uma história abundante em exemplos nos dá provas de que mais frequentemente há apenas ilusão e desilusão." (Galbraith,1990:77)

Há também o problema do esquecimento das crises. Neste final de 2011, em que os indicadores econômicos e financeiros internacionais revelam que a crise de 2007-08 definitivamente não acabou e permanecem extremamente preocupantes, pode-se observar que, em 2010, enquanto o mercado financeiro parecia já ter se esquecido do estouro da bolha especulativa de 2007-2008, a estupenda injeção de recursos dos governos europeus e dos EUA na recuperação de bancos quebrados ofereceu fôlego renovado ao surgimento de novas "bolhas".

Pois os vultosos recursos dos governos destinados a sustentar os bancos quebrados não foram dirigidos aos investimentos produtivos das empresas, geradores de emprego e renda, produtos e serviços. Ao contrário, esses recursos ainda hoje passeiam pelos mercados financeiros de países emergentes em busca de taxas alternativas superiores de rentabilidade; e inflacionam ativos financeiros.

Esses recursos itinerantes, aplicados e reaplicados em ativos financeiros, levam-nos à sobrevalorização artificial (bolha), como se fosse razoável e sensato que somente pudessem tais ativos valorizar e em grande velocidade.

Durante a crise econômica, o comportamento do valor desses ativos (ações, imóveis, títulos do governo, obras de arte etc), é tão somente o de destruição desse valor fictício, processo que economistas chamam de destruição de capital.

Mas o decréscimo do valor desses ativos não necessariamente faz voltar ao seu valor ‘normal’. O mais que se observa é que a ‘bolha inflada’ estoura e o valor do ativo considerado se reduz a zero, pois sua imagem e credibilidade no mercado pode mesmo não passar disso. Isso pode ser afirmado a respeito de fundos de investimentos e letras de bancos privados, ações de empresas, bem como título de governos de países como Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e outros. O governo Kichner, por exemplo, impôs aos credores uma perda de 80% nos títulos governamentais argentinos; e a Polônia até hoje não pagou as ‘polonetas’ adquiridas pelo Brasil nos anos 70.

Investimentos de pessoas físicas: a montanha não se move, cautela, paciência e sangue frio

Assim, para o investidor individual, considerado o presente momento econômico, a recomendação é de cautela e de nenhum movimento brusco. Quem está aplicado em renda variável, como bolsa de valores, e tem seus investimentos desvalorizados, no comportamento ciclotímico da Bovespa, recomenda-se genericamente não se mover. Para quem tem novos recursos e perspectiva de longo prazo, muitas ações estão com preço em bolsa bastante inferior ao seu valor patrimonial e podem ser uma grande oportunidade aos que tiverem fôlego, paciência e sangue frio.

Contudo, essas aplicações em renda variável não poderiam constituir a parcela mais expressiva dos recursos de algum investidor, mas apenas uma pequena parte cuja dimensão poderia crescer de 5% a 15%, ao máximo, dos recursos de investimento disponíveis, inversamente à idade do investidor, mesmo assim após deduzidos os recursos aplicados na compra da casa própria e considerada a absoluta inexigência desses recursos até o longo prazo.

O mercado de renda fixa, por sua vez, apresenta oportunidades interessantes onde se deve observar parâmetros como rentabilidade, prazo, IR e taxa de administração cobrada pelos bancos. Investimentos com taxas de administração superiores a 1% devem ser deixados. Quanto ao IR, a ampla maioria dos investimentos são tributados, mas quanto maior o prazo de aplicação, menor o tributo. Um parâmetro de rentabilidade a ser considerado na escolha do fundo de investimento é a proximidade dos 100% da taxa Selic. Há fundos que prometem 80%, 90% da Taxa Selic. Quanto mais elevado esse percentual, melhor.

Para amplo espectro de clientes do mercado de renda fixa, para todas as faixas de renda pessoal, as aplicações do Tesouro Direto talvez possam ser caracterizadas como a melhor aplicação do mercado, seja pela rentabilidade, seja pela liquidez, seja taxa de administração que pode ser zero, seja pelo fácil acesso, pois podem ser acolhidas aplicações a partir de R$10,00.

Para os clientes PF do mercado Private, aqueles com disponibilidade acima de R$10 milhões, a melhor aplicação são as Letras do Agronegócio, oferecidas pelo BB, lastreadas em sua própria carteira de empréstimos aos seus clientes do agronegócio: são isentas de IR, com taxa zero de administração e grande rentabilidade, são demandadas até por banqueiros privados.

Investimentos Empresariais: ênfase no corebusiness,  fusões e incorporações

Para as empresas, considerado o presente momento econômico, devem ser evitados investimentos em projetos que não componham o cerne do seu negócio (corebusiness), ou dos quais não possuam conhecimento da área, dos produtos ou de tecnologia.

Caso o negócio, o produto ou a tecnologia se prenunciem extremamente vantajosos e até possam ser reconhecidos como a direção futura das empresas do segmento, a melhor estratégia é sempre destinar recursos, de início, apenas para o melhor estudo dessa área de negócio, produto ou tecnologia.  Em momento mais oportuno no futuro, dominado o conhecimento desse segmento, poderão ser destinados recursos ao seu desenvolvimento e, posteriormente, à implantação de projeto.

Deve-se contudo reconhecer que essa atitude conservadora frente às oportunidades de negócios pode levar a perdas de rentabilidade futura, ainda que ela possa vir a garantir  a permanência da empresa no mercado no médio prazo.

Sopesado esse aspecto, pode-se afirmar que uma organização deve permanentemente auferir a dimensão do risco envolvido no aproveitamento de eventuais oportunidades de mercado. E decidir-se pelo investimento quando ele não colocar em risco sua estabilidade no negócio, ao tempo que também (1º) promova o desenvolvimento de sinergias com seus produtos atuais; e (2º) apresente horizonte relativamente curto de amadurecimento dos investimentos e (3º) viabilize a ampliação de receitas com vendas, considerado o potencial atualizado da demanda do mercado sob impacto da crise.

O movimento de fusões e incorporações tem se tornado a tônica dos tempos atuais, pois, ao grande capital, elas proporcionam redução de risco, ao tempo que ampliam mercado e faturamento, viabilizam a absorção de tecnologias, promovem o desenvolvimento de sinergias e, a partir do médio prazo, podem reduzir custos e elevar rentabilidade.

A partir de 2013 para o Brasil e, de 2014-15 para EUA e Europa, anos economicamente melhores podem ser anunciados.


GALBRAITH, John Kenneth. Uma breve história da euforia financeira. São Paulo: Pioneira, 1992.
UNCTAD. The Global Economic Crisis: Systemic Failures and Multilateral Remedies. p.iii. United Nations. Ne York and Geneve, 2009.

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